Depois de conhecer Marjane por “Persépolis” através do clube de leitura da Emma Watson eu decidi que queria ler tudo dessa autora iraniana, então “Bordados” é a segunda obra da Marjane Satrapi a qual eu tenho contato, a história é diferente de “Persépolis”, embora “Bordados” seja uma obra menor, mais específica e que abrange problemas/costumes mais específicos, Marjane consegue elaborar um material riquíssimo culturalmente. A história começa no momento em que os homens da família Satrapi fazem uma cesta após o almoço e as mulheres fazem um chá chamado Samovar.
Os almoços de família na casa da avó de Marjane Satrapi, em Teerã, terminavam sempre com o mesmo ritual: enquanto os homens iam fazer a sesta, as mulheres lavavam a louça. Logo depois começava uma sessão cujo acesso só era permitido a elas – o “bordado”, tema deste que é o terceiro livro de Satrapi publicado pela Companhia das Letras. Os leitores de Persépolis reconhecerão aqui as marcas registradas da autora: o humor cortante, o traço simples em preto e branco, o feminismo mordaz, jamais patrulheiro.
O “bordado” iraniano seria equivalente ao brasileiríssimo “tricô”, não fosse uma acepção bastante particular: a expressão designa também a cirurgia de reconstituição do hímen, uma decisão pragmática para as mulheres que não abrem mão de ter vida sexual antes do casamento mas sabem que precisam corresponder às expectativas das forças moralistas do país.
O grupo que se reúne na casa da avó de Marjane, a mesma que conhecemos em Persépolis, é uma amostra de mulheres com moral e experiência bastante variadas, mas sempre às voltas com o machismo e a tradição, sobretudo depois da Revolução Islâmica (1979). Casamentos malfadados, virgindades roubadas, adultérios, frustrações, golpes e autoenganos, narrados com a ironia tão peculiar à autora, mostram que no Irã amar e desamar pode ser ainda mais complicado do que podemos supor.
Fonte da Sinopse: Quadrinhos na Cia
É em um momento de conversas domésticas e simples que temas muito importantes são abordados e apresentados para o leitor; com um tom leve e divertido, Bordados trata de assuntos delicados e tabu em muitas sociedades. As histórias transitam entre mulheres que tiveram sorte em seus casamentos, outras nem tanto, umas que resolveram seguir os próprios desejos e não se arrependeram, enquanto as que se arrependeram e tiveram que lidar com as consequências.
Contexto dos livros Bordados
Sabe aquela conversa que sempre temos com as amigas pelo whatsapp ou com a família quando as mulheres se juntam? É exatamente isso que acontece em “Bordados”, mas num contexto diferente, já que a cultura Iraniana tem suas peculiaridades; o cunho das conversas são os casamentos, romances e suas vidas sexuais. Em alguns lugares ou para algumas pessoas esses temas são tabus universais e na realidade iraniana, que tem o peso de uma cultura conservadora sobretudo para as mulheres, nos mostra como elas lidam com isso de maneiras diversas.
Fica claro as questões de gênero, o título faz alusão a uma cirurgia de reconstituição do hímen e com uma linguagem fácil e humorística Marjane experimenta um storyboards sem delimitações, o traço é simples e os textos em forma de caligrafia que nos leva a conhecer histórias de mulheres diversas, umas dizem que é melhor ser a amante do que a esposa uma vez que a amante fica apenas com a parte boa da relação; outra relata que mesmo sendo casada a anos e tendo quatro filhos nunca viu um pênis na vida.
Esse é um quadrinho diferente de “Persépolis”, mas que carrega uma mensagem tão importante quanto, até no meio dos momentos engraçados a mensagem entregue vai muito além da troca de experiências comum daquele momento em particular, ele suscita a ideia de que no Irã, no Brasil ou em qualquer outro canto do planeta há milhares de situações tabus que envolvem a sexualidade da mulher e o que a sociedade espera delas.
Bordados
Autor: Marjane Satrapi | Editora: Quadrinhos na Cia
Páginas: 136 | ISBN: 13:9788535916218
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Para ler: https://amzn.to/2V3ni9e
♥
Ósculos e Amplexos, Karina.
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