Mário de Andrade publicou Macunaíma em 1928. O livro foi um acontecimento. Debochado e intensamente brasileiro – ainda que muito pouco ou nada nacionalista -, este romance é ainda hoje um dos textos fundamentais do nosso Modernismo. E continua a influenciar as mais diversas manifestações artísticas. Nascido nas profundezas da Amazônia, o herói de Mário de Andrade é cheio de contradições – assim como o país que lhe serve de berço. É adoravelmente mentiroso, safado, preguiçoso e boca-suja. Suas peripécias vêm embaladas numa linguagem rapsódica e inventiva, um marco das pesquisas de seu autor em torno de uma identidade linguística brasileira.
Fonte da sinopse: https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=85177
Se você é brasileiro ou você já ouviu falar de Macunaíma e do Mário de Andrade, ou você vai muito em breve encontrá-los na sua vida escolar, e antes de falar sobre uma dos maiores clássicos modernos eu queria conversar por dois minutinhos sobre o tipos de leitura que livros nos permitem.
Para a maioria das pessoas ler é um ato de prazer. Nossos livros favoritos são escolhidos pela experiência de leitura que as histórias nos trazem. Partindo desse principio fica mai fácil entender porque a grande maioria tende a torce o nariz para a maioria do clássicos e desgostar de Macunaíma, já que nosso primeiro contato com clássicos muitas vezes é por conta das leituras obrigatórias da escola. Se você assim como eu gosta de e aventurar em gêneros completamente diferentes a dica é: ao ler, reler ou redescobrir um clássico escolha com muita paciência a edição, pois foi assim que eu deixei de odiar a leitura de Macunaíma.
No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói da nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é a que chamaram de Macunaíma.
Esse parágrafo aí em cima já nos dá o tom da narrativa, do vocabulário e da construção de tratamento do personagem que vamos acompanhar. Depois de passar 1 semestre inteiro na companhia da Macunaíma, estudando literatura brasileira na faculdade cheguei a conclusão que, o que nos afasta desse clássico não é porque o texto é difícil, mas é porque não conhecemos nossas origens, raízes e palavras. É muito fácil no mundo da internet absorvemos no nosso vocabulário qualquer palavra estrangeira, porque então é tão difícil e incomodo descobrir o significado de palavras de origem Tupi? Cheguei a conclusão que o problema está muito mais em nós do que no texto.
Mario de Andrade certamente é um dos maiores nomes da Semana Moderna de 1922 e como foi uma pessoa que transitou entre a escrita, a música e as artes plásticas podemos encontrar essa grande mistura e influência em Macunaíma. As descrições gráficas presente no livro durante a leitura muito se encontra com traços que conhecemos dos quadros famosos da semana de 22. O jeito malandro e debochado do personagem rompe com o movimento literário anterior. A migração que o personagem faz do campo a cidade reforça o movimento modernista que coloca a cidade como ‘centro do mundo’.
Qual é a história de Macunaíma?
O plot central dessa narrativa é a de um personagem mítico, uma mistura de diversas lendas indígenas, que nasce feia e desde criança apresenta comportamento sexuais muito exacerbados, que cresce muito rapidamente, que ama intensamente e que após a morte da sua amada sai em busca de seu talismã perdido, uma pedra o seu muiraquitã. A narrativa tem tons épicos já que narra um longo tempo da vida de Macunaíma que hora está no presente, hora se apresenta no passado, sem seguir uma ordem muito cronológica.
O povo brasileiro: nação sem nenhum caráter.
Essa é sem duvida uma leitura que vai te desafiar nos termos de lógica, se você decidir descobrir quem é Macunaíma vai ter que aceitar o fato de que ele pode morrer duas vezes na mesma história; que mesmo nascendo preto retinto em uma fonte pode tornar-se branco; a mágica dessa narrativa não está na história em si – apesar que você pode rir de inúmeras situações que o protagonista se enfia enquanto tenta resgatar sua pedra – está em ir descobrindo todas as alegorias que o texto esconde; o quanto todo o povo brasileiro tem de Macunaíma. O famoso jeitinho brasileiro nunca pareceu tão brasileiro quanto em Macunaíma.
Macunaima é uma tentativa de construção de identidade do povo brasileiro, e numa primeira leitura a afirmação povo sem nenhum caráter me deixou meio incomodada. confesso. Porém, eis que depois de algumas pesquisas entendi que o termo caráter aqui não é empregada como falta de moral e sim como grande mistura e de diversas influências e isso não dá para se negar do povo brasileiro.
Refiz a leitura Macunaíma para o primeiro semestre de literatura brasileira na faculdade e que bom que mais uma vez precisei ler esse clássico. Sai da experiência de: odeio esse livro lá da época do colégio para: caramba preciso dessa edição na minha estante para revisitar daqui um tempo e entender o que por agora me passou despercebido. A edição que contém textos de apoio bem uteis é a da clássicos Penguin-Companhia, mas uma ótima fonte de referencia para esse livro são programas de literatura sobre a Semana de 22 e o programa Café Filosófico que convidou um especialista para falar sobre a obra.
Depois de tudo isso deixo vocês com mais uma pequena curiosidade o clássico escrito amais de 90 anos foi escrito em UMA SEMANA.
Macunaíma, o herói do nosso povo.
Autor: Mário de Andrade
Editora: Penguin Companhia
Páginas: 240 | ISBN: 9788582850411
Para ler: https://amzn.to/3oIMRvz
♥
Ósculos e Amplexos, Karina.
1 comentário
Luma
14 de janeiro de 2021 at 12:09Nossa, adorei o formato! Faço parte da turma dos “traumatizados” pela a escola, mas da forma como você colocou, fiquei morrendo de vontade de ler! Parabens!